Estudo realizado pelo instituto Dados para um Debate Democrático na Educação, em parceria com a Fundação Carlos Chagas e o Itaú Social, revela a vida sofrida e difícil dos educadores brasileiros. Os problemas começam, e em boa parte decorrem, dos baixos salários, que forçam o trabalhador ou trabalhadora a ensinar em mais de uma escola e ser responsável muitas vezes por centenas de alunos.
Conforme o estudo, divulgado pelo Valor, a sobrecarga de trabalho afeta mais de 30% dos professores do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. 45% desses profissionais trabalham em mais de uma escola, e 30%, em mais de uma rede de ensino, atuando ao mesmo tempo em escolas públicas e privadas, além das unidades estaduais e municipais.
Quase um terço dos professores brasileiros que lecionam no período têm mais de 300 alunos por ano. O máximo recomendado por especialistas é de 200 alunos. O resultado do excesso de trabalho e alunos é a multiplicação da incidência de estresses e doenças profissionais como o Burnout. Aproximadamente um terço dos professores da educação básica sofre da síndrome de Burnout, segundo um estudo feito na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A relação entre excesso de trabalho e adoecimentos também foi apontada pela pesquisadora da Fundação Carlos Chagas Gabriela Moriconi. “Outras pesquisas que citamos no relatório apontam que professores que trabalham mais de 50 horas por semana adoecem mais e faltam ao trabalho por causa disso. Portanto, afeta a saúde dos professores, o que é um problema por si só, além de ser um problema para as secretarias de Educação, que precisam gastar mais recursos para substituir os profissionais".
A pesquisadora ainda indica que, como efeito indireto de professores que se desgastam em excesso para lecionar em múltiplas escolas, há um impacto negativo claro no aprendizado dos alunos. "O professor que tem um volume de trabalho grande, em diversas escolas e com quantidade elevada de estudantes sob sua tutoria, dificilmente vai conseguir conhecer e dar a devida assistência a cada um. Não vai conseguir considerar as necessidades individuais e nem dar as devolutivas que contribuem para o processo de ensinamento”, argumenta.
A educação faz a grande diferença no desenvolvimento das nações e deve ser considerada como prioridade absoluta por um governo que tem compromissos com a nação e seu povo, mas parece evidente que a qualidade da educação passa em primeiro lugar pela valorização dos profissionais da área, a começar por professoras e professores, castigados por baixos salários e péssimas condições de trabalho, que por sinal foram agravadas ao longo dos últimos anos pelo crescimento da violência nas escolas.