A redução da jornada de trabalho é uma questão crucial nos dias de hoje frente à emergência da Inteligência Artificial (IA) e novas doenças ocupacionais como a síndrome de burnout.
Seus benefícios são amplos e dizem respeito não apenas à classe trabalhadora, mas ao conjunto da sociedade. Nesta era em que o trabalho muitas vezes torna-se fonte constante de patologias e sofrimentos, é imprescindível considerar os efeitos econômicos-sociais da redução da jornada.
Saúde e bem estar
Em primeiro lugar, a redução da jornada de trabalho é essencial para preservar a saúde e o bem-estar da classe trabalhadora O excesso de horas dedicadas ao trabalho tem sido associado a uma série de problemas de saúde, tanto físicos quanto mentais.
Estresse crônico, esgotamento, distúrbios do sono e até mesmo doenças cardiovasculares são alguns dos impactos negativos que uma carga horária extenuante pode ter sobre o indivíduo.
Um exemplo dramático disto é a emergência da síndrome de burnout. No Brasil, uma pesquisa recente da International Stress Management Association (Isma) revelou que cerca de 30% dos mais de 100 milhões de trabalhadores e trabalhadoras brasileiras sofrem de burnout.
A redução da jornada de trabalho libera mais tempo para o trabalhador descansar, evitar o stresse e o burnout, cuidar de si mesmo e desfrutar de uma vida mais saudável.
Aumento da produtividade
Outra forte razão para reduzir a jornada de trabalho é o avanço subsequente da intensidade e produtividade do trabalho, o que por sua vez provoca um aumento da produção. Embora possa parecer contraditório à primeira vista, a experiência histórica e estudos científicos demonstram que a produtividade do trabalhador cresce após a diminuição do tempo de trabalho, que pode levar a um maior foco, motivação e eficiência durante o processo de trabalho.
Ao oferecer aos trabalhadores um tempo adequado para descanso e lazer, eles retornam às suas atividades profissionais revigorados, mais criativos e com maior capacidade de concentração, o que, por sua vez, impulsiona a qualidade do trabalho realizado.
Os testes com a chamada Semana de 4 dias, realizado no Reino Unido e em vários países do mundo por iniciativa de um grupo de empresários progressistas, confirmam esta sugestiva simbiose entre produtividade e duração do tempo de trabalho.
Redução do desemprego
Ao criar um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, proporcionamos às pessoas a oportunidade de se envolverem em outras esferas da vida, como o convívio familiar, a leitura, o desenvolvimento pessoal, o lazer e o engajamento comunitário. Isso fortalece os laços sociais, promove uma melhor qualidade de vida e contribui para o bem-estar geral da sociedade.
Do ponto de vista econômico, a redução da jornada de trabalho contribui para a geração de novos postos de trabalho e redução do desemprego, bem como para o fortalecimento do mercado interno e o crescimento do PIB. A oferta de empregos é essencial tendo em vista a perspectiva de que a Inteligência Artificial pode deixar milhões de trabalhadores desempregados.
Ao redistribuir as horas de trabalho disponíveis de uma forma social mais racional abrem-se oportunidades para que mais pessoas ingressem no mercado de trabalho, reduzindo assim a taxa de desemprego. Além disso, a maior disponibilidade de tempo livre para os trabalhadores pode impulsionar o consumo, estimulando o comércio e a economia como um todo.
40 horas semanais
Diante dessas considerações, é inegável a importância de reduzir a jornada de trabalho. Essa medida não apenas contribui para a saúde e o bem-estar dos indivíduos, mas também promove a produtividade, fortalece os vínculos sociais, equilibra o mercado de trabalho e impulsiona o desenvolvimento nacional.
No momento em que ganha força em todo o mundo a campanha pela Semana de 4 dias é fundamental que, no Brasil, trabalhadores, governo, parlamentares, empresas e a sociedade como um todo reconheçam esta necessidade histórica, pressionando o Congresso Nacional a deliberar com urgência sobre a Proposta de Emenda Constitucional (PEC nº 231/1995) que reduz para 40 horas a carga semanal de trabalho dos brasileiros e brasileiras. A jornada laboral em nosso país, de 44 horas semanais, é uma das mais elevadas de todo o mundo. Isto já não tem razão de ser.