Pesquisas apontam que a redução da carga horária semanal pode aumentar a produtividade no trabalho, mas adesão ainda é difícil para alguns segmentos
A semana de 4 dias de trabalho já existe em países como Finlândia, Canadá e Japão, e mesmo empresas brasileiras já estão começando a testar a tendência, que promete maior produtividade e qualidade de vida para os trabalhadores.
No Brasil, a adesão ao sistema ainda é inicial e bastante concentrada em empresas da área da tecnologia. De acordo com a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), não há ainda registro de empresas cearenses com o novo modelo de trabalho.
Para o senior principal da consultoria Korn Ferry, Fernando Guimarães, o mercado de trabalho brasileiro como um todo tem uma característica mais conservadora, havendo um menor interesse em testar ideias vanguardistas até que elas tenham se consolidado.
Ele avalia que, mesmo dentro do Brasil, o Nordeste tem menos iniciativa para testar esse tipo de mudança.
“O Nordeste ainda tem uma escola de gestão mais conservadora, o que leva para práticas mais tradicionais. No Nordeste tem uma representatividade muito menor de trabalho remoto”, exemplifica.
ADESÃO AINDA BAIXA NO BRASIL
O professor de economia da UFC Rafael Barros aponta que o mercado de trabalho como um todo está ainda em um momento incerto e de recuperação pós-pandemia. Diante disso, é normal que os empresários tenham mais cautela ao aplicarem medidas experimentais como a redução da jornada de trabalho.
Ele ressalta que apesar de os experimentos até o momento terem mostrado perspectivas positivas, ainda não há provas com relação ao aumento na produtividade dos trabalhadores.
"Apesar de estar legalmente funcionando, não há muitas provas de que isso de fato funciona. Hoje existem muitos experimentos, mas poucas evidências. Do ponto de vista do empregador, não vale a pena diminuir a carga horária e manter a mesma produtividade, não tem um ponto de vista econômico”
RAFAEL BARROS
Professor de economia da UFC
Para o economista, o momento atual ainda não é visto como ideal para os empresários, podendo haver um atraso na adesão ao modelo. Ele considera também que a medida não é vantajosa para todos os segmentos.
“Pode ser uma tendência, mas depende muito do setor. Se pegar toda a história do mercado de trabalho, a gente vem passando por uma transformação de trabalhos manuais para intelectuais. Para os intelectuais pode ser uma tendência sim, mas para os que continuam sendo manuais é difícil que isso possa pegar nesses setores”, diz.
BENEFÍCIOS DA JORNADA REDUZIDA
Nos últimos 5 anos empresas de diferentes países começaram a experimentar reduzir a jornada de trabalho dos funcionários. Fernando Guimarães explica que uma das linhas de pesquisa percebe que não há um aumento no quanto o funcionário produz, mas o nível de produtividade se mantém, mesmo com a menor jornada.
“Você vai ter um colaborador com uma saúde mental mais equilibrada, com mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Então isso traz um ganho indireto para a empresa”, destaca.
Outra linha de pesquisa aponta que, de fato, a produtividade aumenta com uma menor jornada de trabalho. Para o consultor, o Brasil pode se beneficiar da semana de 4 dias de trabalho, mas a aplicação pelo menos nesse primeiro momento deve se dar para segmentos que tenham como alicerce um trabalho mais intelectual que manual.
Ele considera que só deve haver um impacto do experimento no mercado de trabalho brasileiro à medida que ocorra alterações na legislação trabalhista.
"O Brasil como um todo ainda tem baixa maturidade e baixo interesse em ser vanguardista nesse tipo de mudança, o Brasil sempre vem já depois de ter sido testado, depois de práticas terem mudado outros países. A jornada reduzida é só mais um modelo que as empresas brasileiras vão esperar que se consolide em outros países. O risco disso é de uma evasão de talentos"
FERNANDO GUIMARÃES
Senior principal da consultoria Korn Ferry
Para empresas menores que queiram experimentar a tendência, a jornada de trabalho reduzida pode se mostrar como um benefício e diferencial para reter talentos.
“É o valor da marca empregadora. Se a empresa entende que pode posicionar isso como benefício, ganha atratividade para conseguir mais talentos. Se a gente está falando de duas empresas, uma propicia a mesma remuneração ou até um pouco mais baixa para trabalhar 4 dias e outra 5, o que você vai preferir?”, pontua.