Os cerca de 150 mil funcionários das três montadoras dos Estados Unidos sediadas em Detroit aprovaram, por meio do United Auto Workers, o seu sindicato, a possibilidade de greve caso não haja acordo na negociação realizada pela entidade com as empresas para os próximos quatro anos. As Big Three, as Três Grandes ou as Três de Detroit, são General Motors, Ford e Stellantis, dona das marcas Chrysler, Dodge, Jeep e Ram. Entre as reivindicações da categoria destaca-se a redução da jornada de trabalho para 32 horas semanais, o que corresponde a uma semana de 4 dias com jornada diária de 8 horas.
No topo dos objetivos também está a recuperação de benefícios perdidos ao longo dos últimos quinze anos, desde a crise econômica internacional, a elevação dos pisos do chão de fábrica, a redução do número de contratos temporários e reajustes salariais de dois dígitos, tudo compatível, segundo o presidente recém-eleito do UAW, Shawn Fain, com os lucros obtidos pelas fabricantes nos últimos dez anos nos Estados Unidos: US$ 250 bilhões, sendo US$ 21 bilhões somente nos primeiros seis meses de 2023.
“Os integrantes de nosso sindicato estão claramente fartos de viver de salário em salário, enquanto a elite corporativa e a classe bilionária continuam a se dar bem como bandidos”, assinalou Fain, em comunicado. “Enquanto os executivos e acionistas das Três Grandes enriqueceram os associados do UAW ficaram para trás. Nossa mensagem para as Três Grandes é simples: lucros recordes significam contratos recordes.”
O UAW pleiteia que a remuneração dos metalúrgicos seja elevada em torno de 40% ao longo dos próximos quatro anos. Hoje os rendimentos por hora trabalhadas partem de US$ 18 e chegam a US$ 32. Pede também que as companhias voltem a oferecer subsídio que proteja os metalúrgicos da inflação ao auxiliar no enfrentamento do custo de vida, pensões tradicionais que reforcem a aposentadoria e cobertura de saúde dos aposentados.
Também é um objetivo conseguir diminuir a jornada de trabalho de 40 horas para 32 horas semanais, o que configuraria semana de quatro dias, e obter o direito à realização de greve em caso do fechamento de fábricas. Nas últimas duas décadas as Três Grandes fecharam 65 unidades, de acordo com o UAW.
Este, a propósito, é tema que preocupa bastante os sindicatos, devido ao avanço da eletrificação e que gera temor pelo fechamento de fábricas. Veículos elétricos requerem menos partes e peças e são menos complexos de serem montados, e muitas das unidades produtivas são estabelecidas em parceria com empresas de baterias, como Samsung e LG, nas quais os salários pagos são menores do que os das montadoras.
O UAW diz que negocia “uma transição justa”, ao buscar também equiparação dos rendimentos nos dois formatos fabris. Os contratos de trabalho de GM, que emprega cerca de 46 mil trabalhadores, Ford, com 59 mil empregados, e Stellantis, com 44 mil funcionários, expiram em 14 de setembro.
Os Estados Unidos vivem uma fase inédita de crescimento das mobilizações sociais e eclosão de greves, entre elas a que foi decretada por artistas de Hollywood, que envolve mais de 170 mil trabalhadores e trabalhadoras.