Especialista em gestão de carreiras explica prováveis benefícios para empresas e trabalhadores

Após ser aprovada no Reino Unido, a jornada de trabalho de quatro dias por semana começa a ser testada em empresas no Brasil. Pelo calendário, o experimento começará a partir de novembro deste ano e terá duração de seis meses — até abril de 2024.

O “4-Day Week Global” (quatro dias por semana), realizado em parceria com a Reconnect Hapiness at Work, testa ao redor do mundo a modalidade de jornada em que o profissional recebe 100% do salário trabalhando 80% do tempo em troca de um compromisso de manter 100% de produtividade (modelo que ficou conhecido como 100-80-100).

A ideia de redução de jornada é também uma busca por mais bem-estar para trabalhadores e trabalhadoras. Entre junho e julho ocorreram as chamadas “sessões de informações” no Brasil. Duas companhias que já rodam nesse modelo serão as conselheiras da iniciativa em solo brasileiro: a Vockan, do ramo de tecnologia com sede em São Paulo; e a Efí, antiga Gerencianet, companhia de recebimentos para pessoas físicas e jurídicas, de Minas Gerais.

O gestor de carreiras e professor universitário, Ricardo Machado, explica que não se trata de "as empresas tornarem-se boazinhas de repente. Os resultados dos níveis de produtividade são melhores. Mas como é possível isso? Na verdade este estudo não é novo. Porém foi percebido de maneira clara durante o período de pandemia, onde ao contrário do que se pensava no início, a reclusão da maioria dos profissionais em home-office ou redução de carga horária não diminuiu a produtividade. Pelo contrário. O nível de produção dos profissionais só aumentou", observa Ricardo Machado.

Segundo Machado, os estudos sobre a semana de 4 dias focaram o que mais importa, que são as entregas, ou seja a produçãom, e não a presença física do profissional no ambiente de trabalho. Isso o home-office comprovou na prática. "Mas, assim como na pandemia, cada caso é um caso. Com alguns ajustes, parece ser possível para diversas atividades. As que não podem parar, como atendimento, entrega e outras que requerem uma pessoa a semana toda, pode-se montar um rodízio de funcionários", explica.

Quais são os ganhos na prática para os dois lados, funcionários e empresas? Machado diz que para o trabalhador, parece óbvio. Ou seja, ganhar um dia a mais para descanso. Porém é mais do que isso. Os resultados apurados indicam que as pessoas que já estão neste modelo, têm utilizado este dia a mais para fazer coisas que não conseguiam tendo apenas o final de semana, como fazer atividades físicas ou colocar as consultas médicas em dia", destaca.

E as empresas, o que ganham com isso? "O que parece ser mais importante é ter uma equipe feliz e motivada. Assim podem manter seus talentos com esta motivação a mais. As empresas acabam reduzindo custos como energia elétrica, transporte, alimentação entre outros. Assim está surgindo o 'quintou'! Para quem deixou de trabalhar às sextas. Mas existem modelos onde a empresa optou por eliminar a 'famigerada' segunda e tendo início das atividades na terça ou dando uma folga no meio de semana, como na quarta-feira. É o sonhado feriadão toda semana. E antes que alguém pense que realmente Deus é brasileiro, isso está começando em diferentes locais do mundo", conclui Machado.

Onde a semana de quatro dias já foi testada?

Emirados Árabes

Os Emirados Árabes Unidos foram o país pioneiro na redução no número de dias de trabalho. Desde janeiro de 2022, todos os funcionários de órgãos públicos colaboram com apenas 36 horas semanais, divididas em quatro dias úteis.

Reino Unido

Cerca de 60 empresas do Reino Unido participaram de um teste com a semana de trabalho de quatro dias durante seis meses. As companhias puderam escolher entre uma jornada de 8 horas por dia durante quatro dias ou as mesmas 32 horas divididas em cinco dias. Remuneração e benefícios permaneceram inalterados.

Bélgica

No início de 2022, a Bélgica implementou a semana de quatro dias. Os trabalhadores ganharam o direito de decidir se preferem a jornada de quatro ou cinco dias, com o mesmo salário. A jornada de trabalho belga é de 38 horas totais, mas o empregado pode trabalhar 45 horas numa semana e deduzir o tempo adicional na semana seguinte.

Islândia

Entre 2015 e 2019, a Islândia realizou o maior piloto do mundo, reduzindo a jornada semanal de trabalho de 40 horas para 35 ou 36 horas, sem corte salarial. Cerca de 2,5 mil pessoas participaram dos testes. Os resultados, com as empresas tendo maior ou igual produtividade, levaram os sindicatos a negociar a jornada de trabalho.

Suécia

Na Suécia, a semana de trabalho de quatro dias com expediente de 6 horas foi testada em 2015 e teve resultados mistos. 

*Com informações da Revista Exame.