O número de pessoas que trabalham longas horas em todo o mundo aumentou, atingindo cerca de 479 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, ou 9 % da população mundial em 2016, uma tendência que coloca mais pessoas em risco de incapacidades relacionadas ao trabalho e à morte prematura, de acordo com criterioso estudo da OIT e OMS, fundamentado em pesquisas realizados em 154 países no período compreendido entre 1970 a 2018. Leia mais abaixo.
GENEBRA (Notícias da OIT) - Longas jornadas de trabalho levaram a 745.000 mortes por doença isquêmica do coração e derrame em 2016, um aumento de 29% desde 2000, de acordo com novas estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em uma primeira análise global da perda de vida e saúde por essas duas doenças associadas a longas horas de trabalho, a OMS e a OIT estimaram que, em 2016, 398.000 pessoas morreram de acidente vascular cerebral e 347.000 de doenças cardíacas atribuíveis a terem trabalhado 55 ou mais horas por semana.
A revisão encontrou evidências suficientes de que trabalhar pelo menos 55 horas por semana está associado a um maior risco de doença cardíaca isquêmica e acidente vascular cerebral, em comparação com trabalhar entre 35 e 40 horas por semana. De 2000 a 2016, o número de mortes por doenças cardíacas devido a longas horas de trabalho aumentou 42% e as por acidente vascular cerebral em 19%.
Com isso, 72% das mortes ocorreram entre homens. Os trabalhadores de meia idade ou mais velhos com idades entre 60 e 79 anos que trabalharam 55 horas ou mais por semana entre as idades de 45 e 74 anos foram particularmente afetados.
Isso é especialmente preocupante, dado que o número de pessoas que trabalham longas horas em todo o mundo aumentou com tempo, atingindo cerca de 479 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, ou 9 % da população mundial, uma tendência que coloca mais pessoas em risco de incapacidades relacionadas ao trabalho e à morte prematura.
"Trabalhar muitas horas pode provocar numerosos efeitos mentais, físicos e sociais. Os governos deveriam levar este assunto muito a sério. " Vera Paquete-Perdigão, diretora, Departamento de Governança e Tripartismo da OIT.
"A pandemia da COVID-19 piorou a situação, pois os trabalhadores podem ser afetados por riscos psicossociais adicionais decorrentes da incerteza da situação de trabalho e do aumento da jornada de trabalho."
A disseminação do teletrabalho, as novas tecnologias de informação e comunicação e o aumento dos empregos flexíveis, temporários ou autônomos têm aumentado a tendência para trabalhar longas horas. Também levou à uma indefinição dos limites entre o tempo de trabalho e os períodos de descanso.
Para enfrentar este problema, o relatório afirma que governos, empregadores e trabalhadores devem implementar uma série de medidas, incluindo:
Governos podem ratificar e desenvolver políticas para implementar as Normas Internacionais do Trabalho sobre tempo de trabalho, como o estabelecimento de normas sobre os limites de tempo de trabalho, os períodos de descanso diários e semanais, férias anuais remuneradas, proteção de trabalhadores noturnos e o princípio da igual de tratamento para pessoas com trabalho em meio período.
Governos, em consulta com os parceiros sociais (organizações de trabalhadores e de empregadores), podem introduzir leis e políticas que garantam limites máximos ao tempo de trabalho e promovam a conformidade no local de trabalho para condições de trabalho decente.
Empregadores, em colaboração com os trabalhadores, podem organizar o tempo de trabalho para evitar resultados negativos para a saúde dos trabalhadores em relação ao trabalho por turnos, trabalho noturno, trabalho de fim de semana e horários flexíveis.
As novas estimativas analisam o número de mortes e vidas saudáveis perdidas devido à exposição a fatores de risco ocupacionais, por exemplo, exposição a substâncias químicas e câncer, entre muitos outros.
A análise detalhada das estimativas indica que as 15 convenções ativas da OIT relativas às horas de trabalho salvaram cerca de 143.000 vidas, além disso, a ratificação universal das convenções seria capaz de salvar mais 415.000 vidas em todo o mundo.
A análise foi possível graças às novas metodologias desenvolvidas em conjunto pela OIT e pela OMS, que permitem estimar o impacto dos fatores de risco ocupacionais na saúde dos trabalhadores e das trabalhadoras. Espera-se que essas metodologias permitam mais ações de prevenção baseadas em evidências.
Nota aos editores:
Para este estudo, duas revisões sistemáticas e meta-análises dos testes mais recentes foram realizadas. Os dados de 37 estudos de doença cardíaca isquêmica envolvendo mais de 768.000 participantes e 22 estudos de AVC envolvendo mais de 839.000 participantes foram sintetizados. O estudo abrangeu os níveis global, regional e nacional e foi baseado em dados de mais de 2.300 pesquisas coletadas em 154 países entre 1970 e 2018.